sexta-feira, 11 de julho de 2008

Noite de saudade

Florbela Espanca

A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!
Por que és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!

O Sol Nascerá

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

Fim da tempestade
O sol nascerá
Fim desta saudade
Hei de ter outro alguém apara amar


A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

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Das Águas do Velho Chico, Nasce Um Rio de Esperança (2006)

Vou navegar...

Na minha Estação Primeira

Nas águas da “integração” chegou Mangueira

Opará... Rio-Mar o nativo batizou

Quem chamou de São Francisco foi o navegador

Na serra ele nasce pequenino

Ilumina o destino, vai cumprir sua missão

Se expande pra mostrar sua grandeza

Gigante pela própria natureza

A carranca na Mangueira vai passar

Minha bandeira tem que respeitar

Ninguém desbanca minha embarcação

Porque o samba é minha oração

Beleza o bailar da piracema

Cachoeiras um poema à preservação

Lendas ilustrando a história

Memórias do valente Lampião

Mercado flutuante, um constante vai-e-vem

Violeiro, sanfoneiro, que saudade do meu bem

O sabor desse tempero, eu quero provar

Graças à irrigação, o chão virou pomar

E tem frutas de primeira pra saborear

Um brinde à exportação, um vinho pra comemorar

O Velho Chico! É pra se orgulhar

O sertanejo sonhou

Banhou de fé o coração

E transbordou em verde e rosa

A esperança do sertão

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Tarde demais...

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!...

Florbela Espanca